Barragem de Santa Clara - Pormenor do descarregador de superficie

Aproveitamento Hidroagrícola do Mira

A construção do Aproveitamento Hidroagrícola do Mira teve lugar entre os anos de 1963 a 1973 abrangendo uma de área de 10.670 ha na chamada Charneca de Odemira e uma área de 1.330 ha para sul da Ribeira de Seixe. Este Aproveitamento localiza-se na extremidade sudoeste do Distrito de Beja, sendo limitado a Norte pelo Rio Mira, a Este e Sudoeste pela E.N. 120, a Oeste pelo Oceano Atlântico, estendendo-se a Sul até ao Barranco de Falcate, Freguesia e Concelho de Aljezur. A área beneficiada desenvolve-se maioritariamente na faixa costeira, entre Vila Nova Milfontes e a povoação do Rogil numa extensão total da ordem de 41 km, com uma largura variável entre 2 a 6 km. Inclui ainda, algumas zonas aluvionares situadas nas margens do Rio Mira.

O Perímetro de Rega do Mira possui uma área equipada de 15.200 ha, com uma área beneficiada de 12.000 ha. A origem da água para rega, abastecimento urbano, industrial e piscicultura, é proveniente da albufeira criada criada pela Barragem de Sta. Clara, localizada no Rio Mira a Este do Perímetro de Rega. O desenvolvimento total da rede de adução é de cerca de 598 km, dos quais cerca de 178 km constituem a rede primária integrando os restantes na rede secundária. A rede terciária inicia-se nos canais e distribuidores assegurando a condução de água até á parcela.


Rede de Rega

O sistema de adução do Aproveitamento Hidroagrícola do Mira inicia-se na tomada de água da Barragem de Santa Clara e prolonga-se pelo Canal Condutor Geral, ao longo de 38 km, terminando em dois reservatório.
Nestes reservatórios iniciam-se dois canais secundários, o Canal de Milfontes que se desenvolve para Norte e o Canal de Odeceixe, que corre para Sul e ainda alguns distribuidores que no seu conjunto tem um desenvolvimento de cerca de 140 km. A partir destes elementos de obra tem o seu inicio a rede terciária, constituída por regadeiras em conduta fechada de diâmetros variáveis que possibilita a distribuição de água aos regantes por meio de caixas de rega colocadas no pontos de maior cota das respectivas “ilhas de rega”, desenvolvendo-se num total de 420 km.
Todas as infra-estruturas hidráulicas de adução foram dimensionadas para o caudal fictício contínuo de projecto de 0.94l/s ha, tendo este valor em conta as necessidades hídricas das culturas no período de ponta e a sobrevalorização necessária à organização de rega ou rotação.



O Canal Condutor Geral possibilita o escoamento de água da Barragem de Santa Clara até ao Perímetro de Rega. Tem um desenvolvimento de cerca de 38 km e foi dimensionado para um caudal de 11,2m3s-1 .
Este canal permite ainda a rega de 1.100 ha através de regadeiras directas, e dos distribuidores do Mira e do Corgo da Lenha Mancosa.
As características topográficas da região onde se insere tornaram necessárias diversas Obras de Arte:

  • 11 túneis de 7.375 m de comprimento total
  • 4 sifões de 2.491 m de comprimento total
  • 13 pontes canal de 2.185 metros de comprimento total

Reservatórios de Regularização

O Canal Condutor Geral termina no reservatório de regularização de Odeceixe, com um desenvolvimento de 3.707 m e uma capacidade de armazenamento total de 316.000 m3. O reservatório de Milfontes localiza-se a uma cota inferior ao de Odeceixe (20 m) e possui um desenvolvimento de 972 m com uma capacidade de armazenamento de 33.000 m3.
A existência de dois Reservatórios de Regularização, com uma diferença de cotas de 20 m, permitiu a instalação entre eles de uma Central Hidroeléctrica, onde são turbinados os caudais de rega com o objectivo de produzir energia e assim conseguir um rendimento adicional


O canal de Milfontes, com um desenvolvimento total de 24.400 m e um caudal de 5.697 m3s-1, deriva do reservatório de Milfontes, beneficiando uma área de cerca de 6.060 ha. Derivando do reservatório de Odeceixe, o Canal de Odeceixe tem um desenvolvimento de 22.050 m e um caudal de 5.467 m3s-1, beneficiando uma área de 4.843 ha. O Canal do Rogil desenvolve-se por 24.400 m, sendo uma extensão do Canal de Odeceixe, na parte sul do Perímetro no Concelho de Aljezur.
O reservatório da Boavista regula um volume na ordem dos 5.500m3, entre as cotas 126,20 m e 127,350m.

Central Hidroeléctrica da Bugalheira


Entre os dois reservatórios de regularização foi instalada a Central Hidroeléctrica da Bugalheira que permite turbinar o caudal derivado do reservatório de Odeceixe para o canal de Milfontes, sendo constituída por duas turbinas com uma potência de 830 cv e respectivos alternadores de 800 kVA. É dotada de um sistema de automatização e telecomando possibilitando a sua exploração em regime abandonado, esta central tem uma capacidade média anual de produção de 1,9 GWh de energia eléctrica.

Estações Elevatórias

 

Existem actualmente 4 estações elevatórias:
A Estação Elevatória da Bugalheira localizada junto da Central Hidroeléctrica, eleva a água das condutas para a cota 127,60 m onde se localiza o reservatório de regularização da Boavista, onde começa o distribuidor da Boavista dos Pinheiros beneficiando uma área de 323 ha, necessitando de um caudal de ponta de 300 l s-1.


A Estação Elevatória do Samouqueiro localizada a jusante do novo Bloco XI, eleva água para abastecer o Distribuidor do Samouqueiro, este distribuidor tem origem no Canal de Odeceixe ao quilómetro 12,412, sendo dividido em dois troços, um com 613,6m de desenvolvimento até à estação elevatória e o outro, após elevação, com o desenvolvimento de 2.51,6 m. A área beneficiada pelo distribuidor do Samouqueiro é de 241 há, sendo o caudal máximo de rega de 0,23 m3s-1.
A estação elevatória de Alcaria integrada no Bloco XI.
A estação elevatória de Santa Clara à cota 114,00 m na Barragem de Sta. Clara para elevar água a partir do volume morto.

Características
Estação Elevatória da Bugalheira Estação Elevatória do Samouqueiro
Estação Elevatória da Alcaria
Caudal máximo a Elevar (l s-1) 2 x 170
1 x 60
2 x 120
1 x 60
6 x 148 (zona baixa)
4 x 50 (zona alta)
Altura Manométrica (m.c.a.) 35 33 48,8 (zona baixa)
71 (zona alta)
Grupos Electrobombas
Potencia dos motores (cv)
2 x 125
1 x 50
2 x 75
1 x40
6 x 111(zona baixa)
4 x 55(zona alta)
Número de Unidades 3 3 1


Bloco de Rega XI

A reabilitação e modernização do Aproveitamento Hidroagrícola, foi considerado um imperativo tendo em conta as condicionantes de utilização da actual obra de rega. De facto trata-se de um sistema de distribuição de água com controle por montante que assenta em elevadas perdas de água e grande utilização de mão de obra.
Pretende-se alterar este sistema passando este controle para jusante (água a pedido), sendo a água distribuída sob pressão, com reduzidas perdas e baixa utilização de mão-de-obra.
O estudo prévio concluído em 1994, apontou para a constituição de 16 blocos de rega com áreas entre os 500 ha e 1000 ha, funcionando associados a uma estação elevatória e a um reservatório de regularização.
O bloco de rega nº 11, com uma área total de 920 ha, constitui o primeiro bloco cujo conjunto de trabalhos de modernização já se encontra concluído. O número total de blocos a construir é condicionado pelas disponibilidades financeiras. O funcionamento do bloco de rega nº 11 está integrado num sistema de regularização centralizado a realizar através de um sistema de telegestão. Os reservatórios de regularização entre os canais primários e as estações elevatórias irão permitir compensar, em tempo real, os desvios entre os caudais aduzidos e os caudais consumidos. O fornecimento de água ao reservatório do Bloco de Rega XI é efectuado através de uma tomada de água no canal de Odeceixe, próximo ao Monte da Alcaria Nova a cerca de 11 km da origem deste canal.

Reservatório de regularização e Estação Elevatória

O volume armazenado no reservatório de regularização permitirá a bombagem do caudal máximo de rega (890 l/s), durante um período diário de 16 horas. A estação elevatória é composta por dois escalões de bombagem. Um que cobre a zona baixa do bloco constituído por 5 grupos de electrobomba, sendo um de reserva, capazes de debitar 148 l/s a uma altura manométrica de 48,8 m.c.a., perfazendo um total de 740 l/s (140 x 5). O segundo cobre a zona alta do bloco, constituído por 4 grupos electrobomba, sendo um de reserva, capazes de debitar 50 l/s a uma altura manométrica de 71 m.c.a. perfazendo um total de 150 l7s (50 x 3).

Principais características:

Capacidade total de armazenamento 22000 m3
Capacidade útil de armazenamento 22000 m3
Comprimento 170 m
Largura média 70 m
Altura 3,9 a 4,2 m
Inclinação dos taludes 1 (V) : 2 (H)

Sistema de Telecomando, de Telemedida e Motorização de Módulos

 
O sistema de telegestão de uma rede de adução e distribuição com superfície livre envolve:

  • uma acção de telemedida que permite conhecer em tempo real o seu estado hidráulico;
  • uma acção de telecontrolo que permite actuar sobre o estado hidráulico por forma a serem garantidos os princípios inerentes a uma adequada exploração da rede;
  • uma acção de gestão que atendendo aos consumos, volumes de regulação disponíveis, operacionalidade dos diversos órgãos de exploração, estatísticas do comportamento em anos anteriores, factores económicos se toma uma decisão sobra a forma mais rentável da sua exploração, garantindo a qualidade do serviço prestado.

Para uma gestão automatizada em tempo real é necessário uma adequada informação sobre o estado hidráulico que permite definir as acções de controlo mais adequadas.
Algumas vantagens na utilização de um sistema de telegestão são as seguintes:

  • controlar o processo em tempo real;
  • conhecimento actualizado do funcionamento das instalações;
  • aumenta a segurança dos equipamentos;
  • optimiza o processo;
  • aumenta a qualidade do serviço.

A gestão automatizada das redes com superfície livre pressupõe a existência de infra-estruturas de monitorização e controlo em tempo real. A infra-estrutura de monitorização, permite a aquisição de dados, tais como níveis de água nos canais e nos reservatórios de regularização, posição das comportas e caudais consumidos, para se efectuar o diagnóstico do estado hidráulico. A infra-estrutura de controlo permitirá o envio de mensagens de controlo que tem por objectivo modificar esse estado, de acrdo com os resultados obtidos da análise dos dados recolhidos.
Para a implementação do Sistema de Telegestão foi necessário:

  • Instalação do centro de Gestão localizado na sede de AB Mira em Odemira;
  • Instalação de uma unidade de comando de zona na Central da Bugalheira;
  • Instalação de rede de comunicações via rádio;
  • Instalações para telecomando das comportas verticais instaladas nos reservatórios de regularização associados às estações elevatórias;
  • Instalações para telecomando dos módulos de admissão de acudais nos canais (motorização de módulos)
  • Instalações de telemedida em determinados locais.

Rede de Drenagem


A rede de drenagem natural foi complementada com uma rede artificial de 67 colectores, sendo o seu desenvolvimento total de 101 km.
A drenagem é um dos factores mais limitativos de utilização do aproveitamento hidroagrícola, sendo urgente complementar a actual rede claramente insuficiente estimando-se como indispensável a construção de cerca de 200 km de novos colectores.

Rede de Caminhos



O Perímetro de Rega é actualmente atravessado por estradas nacionais e regionais com faixas de rodagem asfaltada. Para além destas, existem caminhos rurais e agrícolas para acesso às diversas propriedades.
Após a entrada em funcionamento do Aproveitamento Hidroagrícola foram construídos e melhorados alguns caminhos, sendo indispensável a ampliação da actual rede viária, dando coerência à reabilitação e modernização em curso no perímetro de rega do Mira.